A propagação do conteúdo digital ainda dá sustos em muita gente

Esta foi uma das perguntas mais interessantes que foram feitas no decorrer da semana passada. No dia 31/03, o Ministro do STF Luis Roberto Barroso teceu algumas críticas e deu sua visão pessoal sobre a situação política do Brasil para um grupo da Fundação Lemann. Abriu o coração, só não sabia que o encontro estava sendo gravado e veiculado pela TV do STF. Tarde demais: capa de diversos jornais e sites noticiosos, muitas menções em redes sociais. A mídia adorou a honestidade do ministro e explorou amplamente o fato. E de que serviria, a esta altura, desgravar? Quem viu e ouviu, repassou. Em poucos instantes ganhou escala de popularidade. E para o ministro, como ficou a situação?

Estamos num momento de liquidação de posicionamentos e opiniões pessoais, um verdadeiro Black Friday, muitos se matando para conseguir algo, um fato diferente, uma opinião que quebre paradigmas, reforce algum posicionamento, altere o contexto. A sociedade vive mais ansiosa do que nunca, grandes expectativas para desgraças e pela salvação. Há poucas semanas, logo após o auge das discussões em torno da posse de Lula como ministro e outros fatos políticos e Lava Jato, o site Sensacionalista publicou uma nota muito boa expressando que a sociedade brasileira estava entediada porque que não tinha mais novos fatos relevantes a cada 15 minutos. Desta vez, o alvo foi a opinião sincera do ministro, um sincericídio como costumamos classificar algumas declarações.

Tive uma experiência recente durante um evento empresarial que cobríamos. Contávamos com uma jornalista trabalhando o conteúdo das discussões dos painéis e boa parte do conteúdo era registrado e compartilhado em tempo real por Periscope (streaming ao vivo), Facebook, Google Plus, Twitter e LinkedIn. Um determinado momento, uma das pessoas que estava participando como debatedora questionou se o evento estava sendo “gravado”. Ora, gravado, àquela altura, era pouco uma vez que muito já tinha sido veiculado abertamente pela web e nas redes sociais, registrado pela jornalista e por toda a plateia presente. Qualquer um, além de nós da cobertura do evento, poderia ter a mesma atitude de registrar e compartilhar com suas redes particulares.

Difícil para muitas pessoas entenderem que, nos dias de hoje, o que se fala em público é passível de ser compartilhado instantaneamente, ganhar escala geométrica. Não há mais controle. Lembrando um caso:  o cônsul do Haiti dizendo que era boa a tragédia no país para que as pessoas passassem a dar mais atenção aos problemas. E os registros serão eternos até que a web um dia acabe. Se o que foi dito tem caráter positivo, muito bem; se o viés foi negativo, muito trabalho a ser feito para recuperar terreno dentro da web e reverter a imagem negativa para positiva. Foi-se o tempo quando bastava sair comprando todos os jornais e revistas impressas por todas as bancas de jornais da cidade e do país para que a informação não chegasse às mãos da sociedade (e isto não faz tanto tempo assim).

Abriu a boca para falar em público, publicou algo nas redes sociais, deu uma entrevista, assuma as consequências. Afinal, a má notícia é ainda a melhor notícia. Ou ainda sempre haverá aqueles que interpretarão o que foi falado da forma que mais convier. Para o ministro, terá que conviver com isso e pensar melhor na próxima vez que for a público se manifestar.

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